sábado, 18 de agosto de 2018

Todo o Portugal é galego

Comecei a ler, como amiúde faço, pelo meio, com surtidas às folhas do início, depois a percorrer na íntegra uma entrevista, concedida pelo autor, em 1932, ao Diário da Noite.
São dispersos, fruto de quarenta e sete anos de trabalho em prol da defesa do galaico-português.
Detenho-me demoradamente no que é o artigo mais extenso do conjunto. Prosa límpida, tema diversificado, narrativa solta como se em conversa. O título é tudo: A Galiza, o Galego e Portugal
Sublinho, como gosto, e há livros que não valem um risco, neste raro é o parágrafo em que não fica assinalado um excerto. 
Antes de vir aqui, seguia o amoroso esforço de reabilitação de Luiz Vaz de Camões, que numa desastrada estância do Canto IV dos seus Lusíadas pareceu pagar com ingratidão a origem galega, pondo na boca de Vasco da Gama o epíteto «sórdido galego», ante o que Manuel Rodrigues Lapa tudo faz para, inventariando exegetas, achar uma hermenêutica que reconstrua o vocábulo, salvando-o do pejorativo maior.
Mas foi a citação aí a Alexandre Herculano, por cuja grave probidade não posso ter maior apreço, fantasma hoje num tempo de fulgurante esquecimento e medíocre indiferença, que me dita estas linhas: todo o Portugal é galego, muitas vezes sem saber que o é.